Não te afastes, lembrança, não te afastes!
Rosto, não te desfaças, assim, como na morte!
Continuai a olhar-me, olhos enormes, fixos, como
um instante me olhastes! Lábios, sorri-me, como
me sorristes um instante! Ai, fronte minha, aperta-te;
não deixes que se espalhe sua forma fora do seu vaso!
Oprime o seu sorriso e o seu olhar, até serem a minha
vida interna! Embora me esqueça de mim mesmo;
embora o meu rosto, de tanto o sentir, tome a forma
do seu rosto; embora eu seja ela e nela se perca a minha
estrutura! — Oh lembrança, sê eu! Tu — ela — sê lembrança
inteira e única, para sempre; lembrança que me olhe e me sorria
no nada; lembrança, vida com minha vida, feita eterna,
apagando-me, apagando-me!
Juan Ramón Jiménez
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